domingo, 27 de fevereiro de 2011

O que são alimentos funcionais?


Texto Rafael Tonon
Os alimentos funcionais ou nutracêuticos são aqueles que colaboram para melhorar o metabolismo e prevenir problemas de saúde. 
 
Ou pelo menos deveriam ser assim: os cientistas já reconhecem as propriedades funcionais de muitos desses alimentos, porém os estudos ainda não são conclusivos. 
 
“A ciência ainda não consegue determinar uma dieta diária de alimentos funcionais que atenda a todas as necessidades do organismo”, explica Valdemiro Sgarbieri, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

Essas substâncias não são novidade, como às vezes prega a indústria de alimentos. As isoflavonas, por exemplo, compostos que ajudam na redução do colesterol ruim, fazem parte da alimentação humana desde que a soja foi descoberta pelos chineses, há mais de 5 000 anos.
 
O que vem acontecendo é um aprofundamento nos conhecimentos da natureza química das substâncias funcionais e das suas funções no organismo.

Com isso, os laboratórios e a indústria alimentícia passaram a produzir, em larga escala, alimentos funcionais formulados ou “artificiais”, como leites fermentados, biscoitos vitaminados e cereais matinais ricos em fibras.

Para chegarem ao mercado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária exige que o fabricante apresente provas científicas das propriedades funcionais alegadas na embalagem. Mas não se entusiasme demais com os rótulos: 1 litro de leite com ômega 3, por exemplo, oferece menos desse ácido graxo que uma posta de salmão.
 
Fonte: Inar de Castro, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
Betacaroteno
O que faz: Ajuda a diminuir o risco de câncer.
Como age: Quando ingerimos gorduras e proteínas, o betacaroteno se converte em vitamina A, protegendo as células do envelhecimento.
Onde encontrar: Abóbora, cenoura, mamão, manga, damasco, espinafre, couve.

Isoflavonas
O que fazem: Atenuam os sintomas da menopausa.
Como agem: Por ter uma estrutura química semelhante ao estrógeno (hormônio feminino), alivia os efeitos de calor e cansaço da menopausa e da tensão pré-menstrual.
Onde encontrar: Soja e seus derivados.

Licopeno
O que faz: Está relacionado à diminuição do risco de câncer de próstata.
Como age: Evita e repara os danos dos radicais livres que alteram o DNA das células e desencadeiam o câncer.
Onde encontrar: Tomate e seus derivados, além de beterraba e pimentão.

Ômega 3
O que faz: Diminui o risco de doenças cardiovasculares.
Como age: Reduz os níveis de triglicerídeos e do colesterol total do sangue, sem acumulá-lo nos vaso sanguíneos do coração.
Onde encontrar: Peixes de água fria, como salmão e truta, e óleo de peixes.

 
Flavonóides
 
O que fazem: Diminuem o risco de câncer e atuam como antiinflamatórios.
 
Como agem: Anulam a dioxina, substância altamente tóxica usada em agrotóxicos.
 
Onde encontrar: Suco natural de uva e vinho tinto, além de alimentos como café, chá verde, chocolate e própolis.

 
Probióticos
 
O que fazem: São microorganismos vivos que ajudam no equilíbrio da flora intestinal.
 
Como agem: Impedem que bactérias e outros microrganismos patogênicos se proliferem no intestino.

Ácidos Graxos Trans, Fitoesteróis e Doenças Cardiovasculares


Caio Reis, acadêmico em Nutrição da UNB, e Dra. Jane Dullius, coord. do Prog. Do
Artigos comentados:

1 - Willett WC. Trans fatty acids and cardiovascular disease - epidemiological data. Atherosclerosis Supplements 7 (006) 5-8.
 
2 - John S, Sorokin AV, Thompson PD. Phytosterols and vascular disease. Curr Opin Lipidol. 2007: Feb;18(1):35-40.


Discussões têm sido apresentadas acerca dos riscos do aumento de doenças cardiovasculares (DCV), relacionadas ao consumo de lipídios na dieta. 

DCV são a principal causa de mortalidade em diabetes e orientações quanto à dieta e consumo são necessárias e usuais. 

Aqui, apresentamos algumas dessas colocações.

No primeiro artigo, Willett faz uma revisão epidemiológica sobre evidências que relacionam ácidos graxos trans (AGT) com o risco de DCV. 

O segundo artigo é um estudo de revisão com objetivo de examinar as evidências que ligam o USO DE SUPLEMENTOS DE FITOESTERÓIS COM DCV.

Segundo o Codex Alimentarius (1996), AGT são AG insaturados com pelo menos uma dupla ligação na conformação trans, sendo isômeros geométricos e de posição dos AG cis insaturados correspondentes. 

São encontrados, naturalmente, no processo de biohidrogenação dos animais ruminantes. Em 1903, o químico alemão Wilhem Normann desenvolveu a técnica de hidrogenação dos óleos vegetais, sendo lançada a primeira gordura vegetal hidrogenada, em 1911, chegando ao Brasil na década de 60.

Indústrias Alimentícias

O AGT é bastante utilizado pelas indústrias alimentícias na fabricação de produtos como panificados, doces, biscoitos, fast food, entre outros, devido a suas características sensoriais, como maior resistência à oxidação, maior estabilidade, baixo custo, bom substitutivo da manteiga e da banha animal.

FITOESTERÓIS são esteróis de fonte vegetal, que constituem uma classe de LlPÍDIOS  derivados de um anel saturado de quatro membros, com um grupo hidroxil na terceira posição. 

No organismo, atuam na diminuição da absorção de colesterol no intestino delgado por um mecanismo de competição, com conseqüente aumento na excreção fecal. 

Isso ocorre porque a estrutura química dos fitoesteróis é semelhante à do colesterol, diferindo apenas no tamanho da cadeia.

Há, aproximadamente, 44 esteróis conhecidos nas plantas e suas formas mais comuns são o campesterol, sitosterol e estigmasterol, sendo encontrados principalmente em óleos vegetais, nozes e hortaliças. 

Estudos vêm mostrando evidências de que os FITOESTERÓIS saturados, como  SITONOSITOSTANOL, inibe a absorção de colesterol com maior eficiência do que os esteróis vegetais hidrofílicos, como o beta-sitosterol.

Estes fitoesteróis saturados são encontrados em quantidades muito pequenas nas dietas normais, mas podem ser produzidos comercialmente. 

No Brasil, alguns alimentos já estão sendo enriquecidos com fitoesteróis, mas seu valor comercial ainda é bastante elevado - uma unidade de creme vegetal de 250g custa atualmente por volta de 10,00 reais.

Seu uso deve ser feito com cautela, pois ainda não há consenso dos benefícios à saúde e alguns estudos sugerem que uma alta absorção pode levar à FITOESTEROLEMIA, que pode desenvolver, prematuramente, DCV. 

Fitoesteróis já foram encontrados em lesões ateroscleróticas.

Willett mostra que, coincidentemente, o aparecimento das DCV aumentou com a introdução e popularização dos alimentos ricos em AGT, a partir da década de 50, nos EUA - mas devem ser também considerados os vários outros fatores ambientais envolvidos nesse processo. 

Vários estudos vêm mostrando a ligação do consumo de AGT com o aumento do risco de DCV em diversos países, mesmo tendo hábitos de vida bem diferentes.

 
Margarina

No Nurses' Health Study, os dados sobre o consumo de AGT começaram a ser coletados em 1980. 

A primeira publicação foi em 1993, após dez anos de acompanhamento, sendo encontrada associação positiva entre o consumo de AGT e DCV, o risco chegando a ser 70% maior em pessoas que consomem quatro ou mais porções de margarina por dia.

Posteriormente, Dr. Frank Hu atualizou a pesquisa, expandindo para 14 anos de acompanhamento e encontrou como resultado quase 1 mil casos de DCV na amostra estudada. 

Em 2005, foi publicada mais uma etapa da pesquisa, com acompanhamento de 20 anos, e mais de 2000 casos de DCV foram encontrados. Ambos os estudos mostraram uma associação mais forte do AGT no risco DCV quando comparado ao consumo de AG saturado e que os AG mono e poliinsaturados, quando consumidos, funcionam como agentes protetores à saúde.

No estudo holandês que Oomen et al conduziram por dez anos, eles obtiveram resultados similares. 

Dados epidemiológicos de estudos prospectivos mostram que, para um aumento de 2% no consumo de AGT do VET, o risco relativo aumenta em 25%. 

E em dois estudos recentes, conduzidos na Costa Rica (Campos et al), casos-controle utilizando biomarcadores do consumo de AGT tiveram seus resultados, mostrando um aumento no risco para DCV três vezes maior quando comparado o maior e o menor quintil de consumo da amostra.

Segundo dados de revisão no artigo de John et al (2007), a redução da LDL-C, obtida por suplementação com fitoesteróis e estanóis, em doses de 0,7 g - 2,5 g/dia, varia entre 6,7% e 11,3%. 

Este efeito é aditivo ao efeito das estatinas e a adição de 5,1 g/dia de fitoesterol a estatinas produz, adicionalmente, 15% de redução no LDL-C.

Ambos os fitoesteróis e estanóis são bem tolerados e têm poucos efeitos colaterais. Há pelo menos sete estudos que tenham analisado a possibilidade dos fitoesteróis contribuírem para o risco de DCV. 

Glueck et al foram os primeiros a sugerir que a elevação dos fitoesteróis pode ser um fator de risco para DCV, dando a entender que esses, em taxas elevadas, são um fator de risco.

Sutherland e Williams (1998) referem que o aumento da absorção do fitoesterol pode ser um indicador de aumento da absorção do colesterol. 

Rajaratnam et al sugeriram que a baixa síntese de colesterol pode causar um aumento da absorção e, adicionado com os níveis de fitoesterol, pode aumentar o risco de DCV.

Sudhop et al observaram níveis de fitoesterol aumentados entre os doentes com história familiar de DCV. 

Miettinen et al sugeriram que o aumento da absorção do fitoesterol pode contribuir para o desenvolvimento de lesões ateroscleróticas.

O Prospective Cardiovascular Munster relatou que pacientes com níveis de sitosterol de 5.25mmol/L apresentaram aumento de 1,8 no risco de DCV, passando esse valor a superior a 20%, em dez anos. 

Dallas Heart Study sugere que fitoesterol sérico não contribui para DCV.

Estudos usando fitoesteróis em humanos são confusos, por não provarem ou refutarem o aumento do risco de arteriosclerose, claramente relacionado com níveis séricos de fitoesterol. 

Estudos adicionais sobre este tópico são claramente justificados. 

A promoção do uso de plantas ricas em fitoesteróis na redução do LDL-C está aumentando, mas exige prudência com as doses, não devendo exceder 2 g/dia.